sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Doces Sonhos


Doces Sonhos


Aqueles aflitos olhares

Cheios de(s) graça

Enriquecidos de medo

Pediam doçura

Planejavam furto.

Olhares aqueles internos

Maldosos e adocicados

Refratavam sonhos do doce

Doce povo que sonha

Que delicia-se com o querer

Quando não há poder na mão

Na mão, o suor denuncia o que

Seus olhos, recheados de paciência

Escondem do coração, de açúcar e grão

Era para ser nobre a experiência do jovem

Que invisível à pátria amada

Levanta a espada, saca e corre.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Salvador, Bahia, 10 de Outubro de 2006, terça-feira

Ilustríssimo Sigmund Freud,

Saudações ao pai da psicanálise e ao cérebro que explicou o mundo. Resolvi dar tempo à minha histeria, à repressão de minhas emoções e confessar-lhe meu sonho, talvez pesadelo: eu quero ter um pênis. Não que eu seja lésbica, porque não sou e posso até provar, mas alguém disse uma vez, provavelmente você, que a mulher inveja o pênis”. Como não levar a sério diante de minha realidade?

Acho que tudo começou na minha infância, eu adorava andar nua pela casa, mas era reprimida constantemente por meus pais. Já meu irmão, desfilava sem cueca com o seu objeto fálico balançando, arrancando risos de admiração dos nossos “feitores”.

Privilégios como esses, seguiram-se durante toda a minha vida. Na adolescência, enquanto eu me responsabilizava pelos afazeres domésticos, meu irmão aprendia a lidar com os negócios da família, com dinheiro. Eu queria ser ele. Nunca pude sair de casa sem camisa e, até hoje, não posso fazer “xixi” de pé. Sofro, mensalmente, tristes hemorragias, interrompidas somente na menopausa ou gestação, processos muito longe de me atingir. Não, eu não quero transmitir a nenhuma criatura, ainda mais se for mulher, o legado de minha miséria.

Desde os primórdios da humanidade nós mulheres assumimos o papel de “sexo frágil”. Na pré-história, enquanto os homens ganhavam mundo fazendo novas descobertas, caçando, pescando, nós mulheres servíamos-lhes sexualmente, carregávamos seus filhos no ventre e ainda dávamos-lhes de comer. Escravas éramos, talvez até hoje. Na Idade Média, nós fomos queimadas, chamadas de bruxas, enquanto os cavaleiros eram uns cavalheiros, os heróis da História. A voz feminina foi calada durante séculos, assim como o nosso direito ao voto e nossa liberdade sócio-cultural.

É, talvez eu tenha pendências com meu sexo (porque eu sei que eu não sou frágil) e, por isso, procurei ajuda médica. O diagnóstico é sempre o mesmo- sou “histérica”- mas ainda não justifica meus traumas. Quero apenas um pênis ou o que ele significa para o mundo: respeito. E sei que você, como psicanalista, entende, ou melhor, explica, não é? Lembranças à sua esposa Martha e diga-lhe que adorei a receita dos “sonhos encantados”.

Atenciosamente

Maria João