sexta-feira, 31 de agosto de 2007

III

Um cochilo, pelo amor de Deus.

Chuva, cólica e (não distante) aula vespertina. Não poderia haver combinação mais cruel. E como se não fosse o bastante, o sono corroia aquela pobre garota aos pouquinhos. Ela luta, não quer dormir, porque sabe que se ceder, é o fim, mergulhará num universo que a suga aos pouquinhos, que lhe mostra tudo o que ela realmente quer e que hesita em liberá-la para assistir aula. Seus pequeninos olhos observam o ambiente ao seu redor e tudo conspira para que se eles se fechem. A luz é filtrada por uma película lilás que colocaram em sua janela, Djavan canta da sala, do radinho de sua mãe, conduzindo-a ao ritual de ninar. Mas uma voz ecoa na sua mente - não durma... - deve ser o superego, maldito polícia. O confito interno é grande, mas, decide-se, por fim, tirar um cochilo. Ela também é filha de Deus e pensa que Deus, como um bom pai, protetor, zeloso, preza pelo bem-estar da filha. Filha, vá descansar!
E eu vou, pai, sem reclamar.

II

Nina Bebê

Era para ser um dia de luto, Nina Bebê não estava mais entre eles, mas ao invés de caixão e vela, fizeram festa, tocaram música, dirvertiram-se.

Não disseram adeus e sequer notaram sua ausência. A vida continuava a mesma para todos e substitutas para aquela criatura não faltariam, caso necessário, nas fases de crise.

Nina Bebê era conhecida na vizinhança, visitava a todos sem qualquer distinção e, nos momentos de carência, era muito bem recebida, com direito à afagos e carícias. Os carinhos, porém, no final do dia tornavam-se impossíveis e acabavam expulsando a pobre Nina de suas casas: homens de respeito não se deixam apegar à criaturas.

Se ela estivesse ali agora, deixaria todos os rapazes passarem a mão no seu rabo sem reclamar e, se duvidasse, ela mesma se esfregaria neles, alguns diriam descaradamente, outros inocentemente. A verdade é que ninguém nunca soube quais eram as reais intenções da Nina, nunca se atreveram a perguntar. Talvez, aquele olhar verde esmeralda os intimidasse ou talvez achassem que a pergunta seria complexa demais para haver resposta.

Independente de perguntas e respostas, Nina fazia o possível para cativar a todos, desde adultos até os garotinhos. Algumas mães não gostavam dela, principalmente quando viam-na agarrada aos seus filhinhos, temiam suas garras, chamavam-na de traiçoeira e, não se cansavam de insultá-la, ameaçá-la: “ Não fique muito perto dessa coisa, meu filho, isso não é de confiança, você nem sabe por onde ela passou. Eu já disse que se eu ver esse bicho de novo perto de você, eu mato... não você, ela.”

Na tentativa de se incluir na rua, Nina acabava sendo muitas vezes inconveniente. Aparecia sem ser convidada, pior, aparecia na hora do almoço. Trancaram portas, janelas e passaram a evitá-la cada vez mais. Já não bastava ser diferente, agora ela era excluída.

Pobre Nina Bebê, nem os seus lindos olhos de ressaca conseguiram melhorar sua reputação. Alguém, porém, aproximou-se de Nina, voluntariamente, conquistando em apenas alguns minutos a sua confiança, chamando-lhe de gatinha, prometendo-lhe comida e um lugar quentinho pra descansar em paz. Nina nem parou para pensar, entregou-se de corpo e alma à este cidadão. Seu corpo acabou parando numa churrasqueira, quentinha por sinal. Sua alma? Sua alma busca as outras seis vidas.

I

Este blog não surgiu do nada. Ele veio de uma gripe, daquelas bem "brabas".
A manhã estava chuvosa e eu acordei espirrando para todos os lados. Jatos de baba e de vírus inundavam o meu quarto e, antes que eu me afogasse, resolvi levantar e fazer algo de útil. E, mesmo sabendo que estudar seria muito útil naquele momento, faltou-me coragem.
Meu nariz parecia estar sendo corroído pela minha corisa e minha cabeça latejava ao ponto de me fazer querer hibernar. Sou adepta da filosofia de que "dormir cura todos os males". Pórém, as muitas xícaras de café que eu havia tomado, na expectativa de aliviar o desconforto da gripe, não me deixavam dormir.
Então ocorreu-me, entre "atchins", criar este blog. Porque assim como os espirros, minhas palavras são rebeldes, me desobedecem e querem invadir o meu quarto, a minha casa, o meu mundo, que também é o seu mundo.
Antes que nos afoguemos em minhas palavras, leiamos o que tenho pra dizer: "Atchim"